O Queen me traz boas lembranças! Foi a primeira banda de rock que eu ouvi na vida, quando tinha ali meus 5 ou 6 anos de idade. Tenho até hoje o disco: “The Game”, de 1980 que era do meu pai. Já me apresentei tocando alguns clássicos do Queen com uma banda. Não consegui ver os caras ao vivo, mas ver o tributo Queen Extravaganza, produzido pelos membros originais do Queen Brian May e Roger Taylor, é uma experiência muito boa!

Quinta-feira, 30 de Maio de 2019, Espaço das Américas – SP

Como dito na abertura, o Queen Extravaganza é um projeto produzido pelos membros originais Brian May – guitarrista e Roger Taylor – baterista. A idéia é que eles façam a coordenação dessa banda, focada mais na parte musical do que nos trejeitos do Freddy Mercury ou na maneira de se vestir. O foco é a qualidade musical. E isso os caras tem de sobra!

O público era predominantemente mais “maduro”, apesar de ter até algumas crianças na platéia. A casa estava configurada no estilo teatro, com todos sentados em cadeiras divididas em setores, sem espaço para ficar em pé. Meio zoneado para as pessoas acharem seus lugares, mas sem grandes problemas. Eu mesmo me confundi, fiquei por uns minutos sentado em uma cadeira no setor errado até me dar conta disso quando o verdadeiro dono do assento chegou. Mas ok, até porque eu tinha dois lugares só pra mim, já que meu pai – responsável por eu gostar de Queen e por tabela, de Rock, acabou me dando um bolo e não pode ir comigo no show.

Não teve banda de abertura. Na primeira visão do palco, sem muitas firulas, dava pra ver no fundo o grande símbolo da banda que foi desenhado pelo Freddie Mercury – a letra Q estilizada e enfeitada com caranguejo, leões e fênix que traz, entre outras coisas, a representação do signo do zodíaco dos membros da banda. A bateria é bem menor que a bateria usada pelo Roger Taylor. Eu sou baterista, reparo nessas coisas!

Com uns 20 minutos de atraso o show começou com “One Vision”, do álbum A Kind of Magic de 1986. E a primeira coisa que me chamou a atenção foi o guitarrista Brian Gresh – ele não está ali como o cara que está representando simplesmente o Brian May de forma oficial perante o mundo, ele está ali como um garoto se divertindo com os amigos. Ele deve se divertir tanto com isso que nem de longe aparenta ter os 35 anos de idade registrados. Canhoto, sem aquele típico cabo de guitarra enrolado que o Brian May usa, ele realmente é um cara que manda muito bem. Eu, que estava sentado bem em frente a uma caixa de som, entendi muito bem o recado que ele passou com a guitarra. E sim, o guitarrista do tributo também se chama Brian!

O lance de ser uma apresentação com “platéia comportada”, ou seja, sentadinha nas cadeiras, tem seus pontos positivos e negativos. Eu particularmente prefiro esse tipo de show em pé. Já na segunda música, “Dont Stop Me Now”, umas meninas que estavam na primeira fila se levantaram e começaram a dançar e aplaudir. Na mesma hora os seguranças na frente do palco pediram para que elas se sentassem… meio broxante… mas, ainda estava só no começo do show e muita coisa iria acontecer ali. E provavelmente esses seguranças não conhecem o estudo que diz que essa música é a música mais feliz do mundo! Sério! Leia aqui -> A Música Mais Feliz do Mundo

Quando o vocalista Alírio Netto começou a falar em claro português, muita gente ficou surpresa na platéia. O fato é que ele foi escolhido pelos próprios Brian May e Roger Taylor para ser o vocalista do Queen Extravaganza, assim como todos os outros integrantes. Alírio é um cantor, compositor e ator brasileiro com uma forte atuação do lado do Rock n Roll. Já participou de vários musicais, entre eles Jesus Cristo Superstar e também o We Will Rock You! Se quiser saber um pouco da história dele, recomendo essa entrevista á jornalista Leda Nagle no canal dela no Youtube nesse link

E falando em vocal, outra coisa bem legal é que toda a banda canta. Em algumas músicas todos cantam ao mesmo tempo. Isso fica muito bom mesmo! E tem até momentos individuais como veremos mais a frente.

Além do Alírio no vocal, Brian Gresh na guitarra, a banda conta com o canadense François-Olivier Doyon no baixo, o baterista Tyler Warren que também é um dos diretores musicais do projeto e o tecladista Darren Reeves. Tanto o baterista quanto o tecladista também tocam com Brian May e Roger Taylor quando eles se apresentam no projeto “Queen + Adam Lambert”.

Alírio Netto canta bem e canta muito. Claro que inconscientemente você acaba fazendo comparações com o Freddie Mercury, mas a idéia do Queen Extravaganza não é imitar o Queen original. Como o próprio Alírio já disse em entrevistas, todos tem abertura para colocar o seu jeito, a sua “digital” no processo. Isso dá uma liberdade pro show que o torna mais humano, mais emocionante. Quando você entende isso, entende o que é o Queen Extavaganza!

O Queen sempre foi conhecido por experimentar coisas novas, principalmente nas gravações de estúdio (sim, Bohemian Rhapsody é praticamente um MBA sobre o assunto). Nesse show, algumas vezes são colocados efeitos de eco no microfone de Alírio que claramente lembram essas experiências. O efeito é bem usado, de um jeito que não fica “over”.

“Who Wants to Live Forever” é cantada na primeira parte pelo tecladista Darren Reeves de maneira incrível. Essa música foi escrita pelo guitarrista Brian May para a trilha sonora do filme Higlhander. Reza a história que ele escreveu ela em um táxi, quando voltava pra casa após assistir trechos do filme. A letra foi inspirada na cena em que o personagem principal interpretado por Christopher Lambert vê a esposa morrer em seus braços. Essa é a cena em que a música toca.

Alírio pega um violão e começam a tocar “I Want It All”. Esse é um daqueles momentos que todos na banda cantam a música e nos lembram como o Queen era bom nesse lance de combinar vozes. Roger Taylor e Brian May sempre foram muito bem no vocal. John Deacon, o baixista original também mandava no backing vocal algumas vezes, mas com não tanta freqüência.

E quando estamos em um show de músicas do Queen e no palco colocam dois banquinhos um do lado do outro, todo mundo sabe o que vai acontecer: “Love of My Life”! Engraçado que a maior parte das pessoas conhecem essa música por essa versão de voz e violão eternizada como foi no primeiro Rock in Rio. Esses dias eu voltei a ouvir a versão de estúdio e ela até tem uma carinha um pouco diferente, com mais alguns instrumentos, mas como disse o Alírio, principalmente pra nós brasileiros, essa versão voz e violão tem um sentimento maior de emoção. E eles conseguiram trazer essa emoção, com todos cantando junto, tal qual aquele Rock in Rio.

Em “A Kind of Magic” o Alírio Netto sai do palco e o baterista Tyler assume os vocais. E cara, eu toco um pouco de bateria… tocar bateria e fazer o vocal principal de uma música como essa ao mesmo tempo é algo que tem que ser reconhecido! O cara foi um monstro! Grande momento do show!

Alírio novamente com um violão e aquela introdução clássica de “Crazy Little Thing Called Love” começa! Hits dos hits! E novamente a galera da fila da frente levantou pra dançar e novamente os seguranças pediram pra sentar. Acho que o Alírio não estava se aguentando e antes do início de “Another One Bites The Dust” ele disse em bom paulistanês: “Seguinte galera, todo mundo de pé!”. Aí os seguranças se entreolharam, riram e tudo virou uma festa!!

Em um outro momento, o tecladista e o vocalista deixam o palco e a banda fica como um power trio de guitarra, baixo e bateria e vira um Rock acelerado e pesado de respeito: é “Stone Cold Crazy” cantada pelo baterista Tyler! De novo! Parece que o cara escolheu cantar e tocar bateria nas músicas mais difíceis! Que porrada! Bati palmas de pé para esse mothafucka!!

Como é o momento dele, ao final da música, os outros também deixam o palco e ele faz o solo de bateria. Foi curto e ele aproveitou para dar uma regida na galera, naquele esquema “eu toco uma parte aqui, vocês gritam outra parte aí”. A banda voltou, ele apresentou todos e anunciou que iriam tocar uma música que o Queen tinha tocado no Brasil uma única vez no show de 1981 – “Need Your Loving Tonight”. Uma das minhas preferidas da banda! Escorreu uma lágrima!

“Under Pressure” que música foda essa! Que som de baixo simples e marcante! E olha só: Nas últimas turnês do David Bowie, nessa música ele tinha a ajuda da baixista Gail Ann Dorsey pra cantar. E aqui também, o baixista François-Olivier Doyon também faz dueto com o Alírio Netto. Baixistas bem representados!!

E aí veio “I Was Born To Love You”- esses caras eram bons para criar música sobre declarações de amor… alguém duvida? Outra lágrima escorrendo.
“I want to Break Free” – todo mundo de pé de novo! Seguranças já estavam tranquilos e nem mais tentavam impedir nada.

“Bohemian Rhapsody” veio como a última música dessa primeira parte. A obra prima do Queen, a música mais experimental da banda! E o ponto aqui é que aquela parte meio “ópera” no meio antes do solo… o Queen sempre colocava um playback nessa parte durante os shows. Era muito difícil reproduzi-la ao vivo. Mas o Queen Extravaganza faz essa parte ao vivo. Com todos cantando, fazendo subir e descer vozes! Sensacional! Fico imaginando Brian May e Roger Taylor nos ensaios pensando: “Vamos botar esses meninos pra fazer tudo ao vivo!”. E os meninos fizeram! Ao Vivo! Muito, muito bom!

Intervalo rápido. A platéia começou a bater palmas e o pé no chão daquele jeito conhecido. Os caras voltaram e mandaram “We Will Rock You”. Logo após, “We Are The Champions” pra fechar o show. Alírio enrolado na bandeira brasileira. Fim de um show muito bem produzido, com uns caras que estão emocionados no palco para uma galera emocionada na platéia.

Nas palavras de Brian May: “Fãs do Queen! Esta pode ser sua única chance de ver TODOS os grandes sucessos de Queen executados de forma imaculada – LIVE !!

Os caras vão voltar em Setembro deste ano ao Brasil! Só uma coisa a dizer: Vá! Vá ver esse show! The Show Must Go On!

Marcelo tem 41 anos, se emocionou muito no show, ficou tocando bateria imaginária em todas as músicas e está pensando seriamente em enquadrar na parede o primeiro disco de Rock que ouviu na vida – “The Game” do Queen!

PS: Esqueci de anotar o set list… se eu achar, boto aqui depois!

Manda pros coleguinhas!
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